sexta-feira, 5 de novembro de 2010

DRUMOMMD O POETA DE SETE FACES


Para o poeta Carlos Drumonnd de Andrade a poesia que tanto viveu e representou refletiu a vida, a arte, a existência duma forma geral. Em sua longa caminhada literária, passou de fato por várias fases – quando se percebe que conforme o tempo vai passando, as poesias vão tendo um tipo de adaptabilidade dos então chamados “tempos novos”, por isso as tão chamadas faces de Drummond que ele mesmo toma como título duma poesia e sustenta até hoje o título de poeta das sete faces. O resultado disso é refletido no final da poesia “poema de sete faces” – “mundo, mundo, vasto mundo, Mais vasto é meu coração” – que perpassa num universo romântico do Eu e seus sentimentos conflitantes. O poeta pertence inicialmente à segunda fase moderna, no entanto suas poesias vão sendo alteradas conforme o cronos (tempo) passa; o poeta como nós, está também atrelado às mudanças e fases do tempo histórico. Ele fundamenta na literatura o cotidiano que manifestava já dentro da semana de arte moderna de vinte e dois. Drummond afinal, é o nosso Baudelaire afirma Mário Chamie escritor e professor conhecido em vários países.

É fato que Drumonnd para cada momento novo, cada fase que passara, dela, transfigurava para o infinito mundo das letras e seus sentidos. Em sua longa carreira como funcionário público, Carlos, nascido no interior de MG em Itabira, descreve em sua poesia que declara ser confessional – “noventa por cento de ferro nas calçadas, oitenta por cento de ferro nas almas...” assim ele apresenta, na história reinventada por ele mesmo, o tempo que vivera em sua cidade – “tive ouro, tive gados, tive fazendas, hoje sou funcionário público e Itabira é apenas um retrato na parede.”
Sua órbita de palavras – significantes e significados – transformou a linguagem da literatura brasileira, dando-lhe novas dimensões, vestimentas, roupagens, construindo ora sentido semântico – referenciais, pressuposições, elementos coesivos e coerência em suas prosas e até poesias, ora sentido pragmático – inferência, entrelinhas. As suas contribuições para o mundo da literatura, da filosofia, da sociologia, da lingüística e do estudo do sentido foram demasiadas, pois logo no princípio das suas manifestações literárias, o cunho ideológico que seguira era o da proeminência social. Carregado pelo o socialismo que figurava uma nova ação no mundo de ordem social, mudança econômica que surtiria um avanço na igualdade dos povos, Drumonnd escreve “A Rosa do Povo”.

O poeta, na reflexão da existência, da vida, reconfigura e transforma o que antes era um sujeito simples e interiorano, Carlos, num eu lírico conflitante, contorcido “gauche” descrito no poema O Anjo Torto – “Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida”.
Sua arte ultrapassa as paredes duma poesia bela, harmônica, parnasiana, e entra no mundo da metalinguagem – a linguagem em si mesma, controverte o sentido da arte imposta até então, quebra ritmos, assonâncias, e propaga neologismos, variações lingüísticas urbanas, como todo modernista que fez muito bem o seu dever de casa. “O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar”, palavras ditas com sapiência de um herói que já sofreu e aprendeu o que é o amor, amar – amando. Em “Amor Natural” se descobre um Drummond erótico, falando de um amor nu, desnudo, o sexo como liberdade das sensações, liberdade da libido.

Carlos Drumonnd de Andrade é indubitavelmente uma prova de que os homens (ser humano) tem o potencial de analisar, criar, recriar, figurar, sintetizar a realidade, a história, a arte, e que todo patrimônio desenvolvido pela humanidade é o recurso primordial, é esse recurso que chamamos de cultura, é ele que nos dá a sustentação, base para um melhor entendimento de mundo e de desenvolvimento intelectual. Suas “pedras” que serviram de empecilhos, sua placa indicadora do “stop”, sua “rosa” possivelmente metáfora ideológica, seu “continho” que cabe no bolso, e seu “José” que imita a vida, são imagens de figuras que possibilitam uma problematização, uma inferência pragmática do sentido.

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