Fizera da vida um inferno, onde o trabalho era primordial. Sua vida fora milimetricamente contada, usou o relógio para contar suas horas de trabalho e descanso. Relacionou-se efetivamente e moralmente com o vínculo do trabalho – a produção. No entanto o que sintetizara dessa - ARTE MANUFATURADA, de certo modo, era tristeza e evasão. Não sei se era pelo fato de não sentir-se completo, diante daquela realidade do trabalho duro e cansativo. Também não sei se era loucura ou puramente ignorância, robustez, estupidez. O fato é que compilando sua vida de trabalho, só o que lhe restara era o fardo, o cansaço. Lazer nem pensar. Isso soava como sarcasmo – Onde que um sujeito tão trabalhador tem tempo pra vadiar?... – o trabalho lhe tomou o tempo, o resto era repouso... dormida! Combinou sua vida ao puro antiÓcio, igual ao coelho maluco que estava sempre atrasado, correndo contra um tempo que não era seu, faltava algo... e arrastava seu ínfimo desejo de produzir sempre – Então, pra que servia, se não para trabalhar?... – A sede que lhe secara o entusiasmo palpitava como nunca, toda vida debruçada nas horas infernais duma produção especulativa que no final acabou num absurdo velho e sem remorso, sem sentido próprio... uma pedra, máquina, cyborg, construído para o trabalho. Mecânico, sua atitude era brutal! Como uma pessoa se doa a uma força de expressão assim? Não transmite compaixão, felicidade, pena, não se sente abalado, vigora quase sempre com imponência. Frustrado, não vive e nem transmite vivência pra ninguém. Mas o trabalho irá ser o seu nome no futuro – Fulaninho foi uma pessoa batalhadora, trabalhou muito!
2 comentários:
Trabalho: nossa única mercadoria. Mesmo assim fizeram acreditar que ele dignifica o homem!
Adorei o texto! Muito bom mesmo :D
Ps: tava vendo a pintura postada...um dos homens parece muito com um antigo professor de matemática que eu tive. Oo
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