quinta-feira, 14 de maio de 2009

Os anos que sonhei


Em um período demasiado sonhei com um universo inteiro, um universo sem medidas, onde passei décadas, centenas, milhares... E até milhões de anos sonhando. Sonhava sempre, não importa onde, quando, como – sonhava sempre.

Nesse mundo – e como era bonito, o tempo se cravava em mim e minha matéria se dissolveu. Diluído como bolhas, não pertencia mais a forma humana e só o que restara foi minha perfeita essência. O cronos fez de mim um devorador, um ser faminto cuja função era tornar tudo ao seu redor parte sua, parte de todo infinito que minha nova veste proporcionava agora.

Nesses anos, construí minha morada sobre as estrelas, onde havia luz suficiente para aclarar minha visão e não deixar que nenhum momento me escapasse. Das estrelas pude ver quão formoso é todo universo, toda imensidão que jamais poderia debruçar em vida material. Com as estrelas, aprendi a ouvir todos os cantos e toda poesia que era tratada como a coisa mais bela de todo o invento.

Dialogava sempre com os cometas e os planetas por milhões de anos, e seus principais conselhos eram o de sempre preservar a riqueza de sentir – sentir é a essência, sentir produz vida, quem sempre sabe sentir adequadamente nunca senti solidão! – o tempo que passara nos meus sonhos arbitrava todas as horas, pois o tempo fazia também parte de mim.

O ponteiro e sua batida pulsavam em meus braços, os números se tornaram códigos de minha imagem, as estrelas eram meu paladar e minha língua, a filosofia fixou em minha psique, causando a análise de sínteses do sentir. Tudo foi reduzido a mim – nesse momento o “homem”, eu, era a medida de todas as coisas –...

Nas minhas digitais corriam os semens de toda herança genética universal. As minhas mãos brotavam todo o mapa do sentido da vida... Vida que era apenas um reflexo das minhas atitudes.

Meu rosto se tornou o conforto macio dos solos férteis, e minha respiração eram os fluxos e refluxos dos grandes cheiros suaves e puros.

Minha barba se tornou em florestas e montanhas que viviam perenemente – nunca envelheciam – os quatros elementos também faziam parte de minha infinita existência.

O mar e os oceanos advieram da minha boca, e descansavam suavemente com suas águas límpidas.

As horas se estendiam e retraiam a cada movimento meu, o passado, o presente e o futuro... Eram frutos de meus devaneios, loucuras, anseios.

E tudo que existia era minha existência, a minha existência era a nossa existência. Não existia mais o medo, a dor, o receio de viver e morrer, tudo era eterno, infindável.

Mas em um instante... – Ham, foi tudo um sonho de alguns minutos –.

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