quinta-feira, 18 de junho de 2009

Meu mundo se perdeu


Meu mundo se perdeu
Fugiu de mim
Deixou-me sozinho
Sem rumo
Sem estrada.

A solidão me escolta
Vive em mim
Sinto o seu cheiro
Seu ardor
Sua existência.

Tudo em mim dói
Minha cabeça
Meus tendões
Minha alma.

Meu corpo se decepou
Meu espírito irradiou
Minha canção acabou
Minha penitência começou.

Voz muda

Quero falar de amores, essa é a imensa vontade
De um peito febril... Mas não existe.
Pois o meu amor deteriorou
E nada mais resta.

Queria chorar pelos cantos, e que o choro
Fosse minha confissão... Mas não consigo.
Pois a sutileza em mim
Já se fora.

Quero uma bebida que alivie minha tensão,
Que me ensine a viver... Mas não existe.
Pois do arado da existência
Cuidamos nós mesmos.

Queria eu não mais um fardo escravocrata,
E ser livre... Mas não consigo.
Pois tudo que me cerca,
Torna-me servo.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Robson Sampaio

Eu sou Capibaribe!... Inflamou o poeta.
Eu sou Capibaribe, com toda sua água,
Com todo esplendor...
Com toda sua vida!

O poeta que trousse de volta a vida,
Com seu espírito, um rio belo e presente
Em nossas virtudes.

O poeta que saiu de lagoas...
Alagoas!
Que entrou com ímpeto em recifes...
Recife!
Que perambulou em seus becos,
Esquinas, avenidas.

Um poeta que reinventa!

O jornalista em seu princípio
Já mendigava por palavras líricas
Em seu discurso social...
Integridade moral.

Dos bares, das festas, dos desejos,
Tiram seus versos híbridos.
Nos whiskys, nos cigarros...
A fuga da inquietude humana.

Um poeta boêmio,
Que usa toda volúpia sem ter dó
E nem piedade do que faz.
Um poeta que já foi sujo,
Melado de tantas outras mazelas.

Um jornalista irremediavelmente poeta.
Um poeta sem medidas,
Sem clássicos, sem puritanismo...
Um poeta das ruas.

Menina

A menina brinca e se esbanja,
Sua dança nos completa,
Trazem nossas lembranças
Do tempo em que fomos crianças.

Nos seus olhos está toda pureza,

Em seus gestos a inocência,
E seu movimento arranca
Toda criatividade e esperança.

A menina numa forma singela
Não conhece a maldade,
A ganância, o ódio, A pobreza,
Vive num maravilhoso mundo
Sem tristeza.

Linda menina da alma branda,
Por onde flui a doce felicidade,
Tão doce feito pirulito
A adocicar o nosso espírito.

terça-feira, 16 de junho de 2009

A Esperança e Não

O Não se impõe e chega rapidamente na Esperança da memória, e diz...
– Cheguei para avisar que não se deve mais existir nenhum resquício de Esperança, e eu, “Não” fui destinado a cumprir essa tarefa. –
A Esperança cabisbaixa, abatida, começa a andar e vai seguindo até sair do pensamento. Jamais essa memória foi à mesma. A única Esperança que tinha, partiu, e não deixou marcas e nem legado algum.

O Não volta para a memória e sintetiza...

– Nada mais vai incomodá-lo meu amo, pois a única coisa que ainda o perturbava era aquela maldita Esperança, e agora ela não está mais aqui. Tudo que está no reino da memória é a amplitude da negatividade do Não. –

Testamento da insipidez


Estou cansado dessa vida,
Mas um peso em minha face.
Estou cansado de tudo,
Tudo que conquistei, que sofri...
Que eu não medi.

Estou cansado
De ser tão apunhalado,
De sempre...
Chorar pelos cantos
E mal dizer-me
Em todas as noites escuras.
Perguntando-me continuamente
– Aonde cheguei?
Quanto ganhei? –
Que ilusão!


Mas sei decerto...
Não tenho valor monetário nenhum.

Estou cansado das minhas atitudes,
De essa inóspita vida brincar comigo...
De o tempo me passar à perna,
Dos absurdos que o espaço faz de mim.

[...] Tenho dores...
E quando tenho dores,
Lamento, e lamentando...
As lágrimas caem,
E rolam sem querer.
– Não é só desespero.
São dores profundas
Que nem todos encantos de todos inventos...
Vão torná-las diferentes. –

Estou cansado...
E acabo o meu discurso dizendo
– Estou cansado!...
Cansado dessa vida,
Cansado de tudo mais...
Cansado dos meus delírios!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Letra no chão (coletânia o melhor da web na bienal do livro)

Num chão bruto e carregado
Nasceu uma letra.
Uma letra suja, sem estrutura.
Passavam automóveis, bicicletas,
Mas ninguém viu que ali
Brotara uma letra.

– Como uma letra brotou no chão?...
Chão este robusto, asfaltado! –

Como pode uma letra viajar
Mundos tão diferentes e parar aqui,
Num solo grotesco,
Onde não há nenhum nutriente
Para fortificá-la?...
– Como ela sobreviveu? –

Contudo, eu vi, está lá!
Uma letra brotada feito rosa,
No chão.

A letra ainda é muito jovem,
Nasceu há pouco tempo,
No entanto já conhece as marcas
De nosso mundo pós-moderno.

Ela parece ser fraca, frágil, debilitada,
Sua roupagem acinzentada,
Sua expressão... Delicada.
Parece-me esconder alguma coisa,
Algum mistério...
Sua força, talvez,
Pois ela nasceu em um lugar
Extremamente inóspito.

Seu recado perante o mundo
Aparenta ser o da persistência.
Suas entrelinhas não dizem com perfeição
Se é coeso o seu discurso.
O contexto em que nascera
Foi totalmente esdrúxulo...
Nasceu por entre pedras!

Sua forma feia, desajustada, incompleta,
Nos faz perceber que existe
Algo além do belo,
E que há muita beleza na feiúra.

A letra não tem nenhum nome,
Raça ou religião.
Nunca jamais, houve algo parecido,
Ou qualquer indício dela na terra.

Sua delicadeza é de tamanha medida.
Seus encantos inquietam quaisquer olhares.
Sua beleza – mesmo sendo feia –
É admirável.
Sua coragem é portanto inabalável.

A letra atravessou o papel,
Driblou as esquinas,
Correu de todos os sonhos
E se fez realidade.

Jamais deixem que essa proeza morra,
Pois ela carrega consigo
A esperança de dias melhores.

Em suas raízes está o legado
Da multicuturalidade dos povos.
Em seu tronco está o revestimento
Do conhecimento universal.
E em sua folhagem
Estão todos os códigos
– Signos –
Que ultrapassam
Todo infinito da vida.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Aurora


Amanheceu, e caiu sobre a terra
O manto que escondia o sol.
Fez da triste noite uma reflexão
Para o dia da chegada que alumia.

– Sendo assim, que se refaça um novo dia. –

Por hora, não tenha pressa de acabar,
Oh dia, sempre virtuoso com tua luz.
Porém, não te maltrates com as tuas mortes,
Porque tens que semear somente os bons nascidos.

A noite passou e deixou marcas, eu sei,
Mas essas marcas serviram para um amanhã
Seguro e tranqüilo... Uma manhã
– Perene, sadia, duradoura! –

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Os sofrimentos dum pobre homem


... Entrou no ônibus, passou pela catraca e sentou-se na cadeira. Ainda ria conversando com algumas pessoas, e pedindo sempre obrigado ao cobrador, mas o seu olhar era mistério reservado de surpresa.

Repentinamente uma alta voz
– Minha gente, eu queria falar... –
Ele não completou!
– Eu queria falar... Eu não sou ladrão! –
Até hoje não esqueço aquele olhar.
– Eu não sou ladrão! Não roubo! –

Ele não tinha se quer jeito para falar, não tinha como começar a história, seus olhos não paravam de olhar de um canto a outro do ônibus, suas mãos tremidas e nervosas não paravam de ajeitar os cabelos.

– Minha gente, eu só quero falar que... –
Parecia um martírio seu discurso.
– Eu queria pedir ajuda, pois minha mulher... Eu sou de Xexéu, em Alagoas, sou cortador de cana-de-açúcar, e minha mulher está internada no hospital. Ela teve que amputar uma das pernas, e talvez tenha que amputar a outra... –

Nesse exato momento a tristeza envolveu todo espaço dentro do ônibus, tudo era tristeza, todos que viram aquele pobre homem, já de idade avançada, chorando desesperado pela dor de sua mulher e pelo seu triste caminho. As lágrimas entorpecidas de dor, lamento, sofrimento, rolaram pelo seu rosto, e sua expressão era de tremenda vergonha pelo seu ato.

– Minha gente, estou a dias aqui nesse lugar, não sei ainda quando ou como vou poder ir para minha casa, não tenho dinheiro algum, e estou sem dormir e sem comer a dias também... –

Num gesto esdrúxulo, levantou a camisa e exclamou – Isso aqui é fome! –
Pois o que restara no seu corpo era só a pele e os ossos, levando uma estrutura raquítica de tanta fome que passava naquele momento. Depois disso a dor e a vergonha lhe caíra novamente, perante a um público que não conhecia, e que nunca vira em toda sua vida.

As lágrimas daquele homem desalmado e esquecido por deus e por todos, me fizeram ficar estático, paralisado, e a perguntar-me se todo meu sofrimento algum dia chegara a esse ponto... Acho que não. E assim ele exclamou, chorando ainda, pela última vez...

– Minha gente, eu só queria ir para minha casa! –

A expressão era muito forte, eram muitas dores e muito sofrimento. Ele continuou a chorar por vários minutos ainda, nós, passageiros, juntamos uns trocados e os demos; chorando muito, pedia obrigado e quase sem voz desceu do ônibus. Chorando, o pobre homem permaneceu, e quando o ônibus saíra da parada, nos últimos segundos, ainda se avistava às lágrimas rolarem seu rosto. Fiquei com tanta raiva de tudo isso, e com raiva de mim mesmo que preferiria mil vezes a morte a ter visto e ouvido aquilo. Pensei bastante sobre tudo que assisti, depois saí do ônibus e fui de encontro ao meu trabalho. Quando cheguei lá, corri pra o banheiro, e chorei por ele.


Minha vitória


Hoje é o dia da minha vitória,
As nuvens deram-me
O gosto suave da chuva,
Os céus olharam para mim,
E se fez exato...
A minha vitória se cumpriu.

Hoje é o dia da minha vitória,
Todos os deuses concordaram
Com todos os meus atos
De bravura, lealdade,
E tive sempre a honra
De nunca desistir dos sonhos.

Hoje é o dia da minha vitória,
E me reconheci feito um herói,
Herói de um sistema bruto,
Desajustado em máximas de ilusões.

– Sou herói!... –
Exclamo!
– Venci a todos e a mim mesmo. –
Pelo meu jugo... Estou lutando!
Pelo meu próprio prazer... Estou liberto!

É samba

[Fotos: Eduardo Toledo]
O samba é requinte,
Tam-tam, é cavaco,
Pandeiro,
É batida apurada.

É Zumbi dos Palmares,
O negro,
É a terra de todos,
É a cor do Brasil.

São ressalvas
De um povo heróico
Que cuida dos seus
Com todo valor.

O samba é que sai da favela
Encanta e distorce
A visão social.

O samba é a história do negro,
É voz da senzala,
É o complexo do morro.

O samba é o tom da viola
É a gente que chora,
É a pisada que rola.

O samba é o destaque
Do negro,
É cultura afiada,
É a vida e mais nada.

– Presente –


Não venhas assim tão nua
Despindo-me por inteiro
E até açoitar-me.

Para com a tua vontade
De querer tudo
E depois no fim,
Afogar-me.

Chega da tua bebida
Que junto ao teu corpo,
Só querem fuzilar-me,
Matar-me.

Acabas com teu mistério,
E lança sobre mim
O teu desejo,
De assassinar-me.

Apagas por inteiro
A sofrível história
Que o futuro próximo
Tende a revelar-me.

sábado, 6 de junho de 2009

O tino da batida


No timbre da batida
Sinto-me voar
Escuto um som
Um som esdrúxulo
Mas rítmico.

Perturba meu sono
Meus sonhos
E vibra como coisa viva.

Desatina, porém segue...
O tom me leva
Para meus versos.

Penso sempre...
Para som!... Para!
Ele não quer parar
Ele não atende.
Agi de forma arbitrária
De forma imposta.

Continua seguindo
Do jeito que chegou aqui...
Não sei como!

[...] Em instantes...
Penetro dentro
De sua musicalidade
E chego ao sublime do tom.

Mas... É apenas um som
Um som tosco
Desajustado
Incompleto
Que eterniza
Minhas palavras.

É apenas um som
Um tom
Uma única batida várias vezes
A qual estou a contemplar.

... Vai som
Não desperta o meu olhar.
Vais...
Pra qu’eu possa descansar.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Tudo vermelho


Meus olhos estão vermelhos e o inferno passou neles
Deixou suas marcas, suas desgraças, seu fogo.
O inferno dantesco é muito pouco para compará-lo.
Eles vivem trêmulos, tímidos, lentos,
Entram e saem de suas funções.
Não sei o que foi ao certo,
Mas me arrepio toda às vezes
Que chego perto.

Meus olhos estão cansados, calejados,
E o tempo e as coisas me deixaram sem noção.
Só vejo uma imagem, uma cor,
Sem presente, sem passado...
Sem minhas partes.
E sinto qualquer coisa presa na garganta,
Em todo meu corpo,
Em minha face.

Meus olhos estão machucados, debilitados,
E a única visão me derrotou, me aprisionou,
Numa caixa vazia mas coberta de mistérios
Que Pandora ousou furtar.
Minha boca ainda anseia
Que meus olhos
O sublime irá de contemplar,
E torce sempre quando pode
Para o inferno maior não demorar.

Meus olhos estão vermelhos e suas ilusões
São tremendas voltagens,
Confundo-me sucessivamente com o agora,
Pois vivo continuamente no passado
E o agora nem sempre existe em mim.
E tudo mais pretendo guardar,
Fico quieto, semicalado,
Para que eles, depois de muitas batalhas...
Possam melhorar.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Carta para meu filho


Olá meu filho, está tudo indo devagarzinho, sempre caminhando como meus passos mandam.
No meu rosto já vejo a velhice corroer a juventude que passara como um sonho, um lindo sonho que durou anos. Nos cabelos, sinto todos os tons grisalhos e o tempo como uma rocha esmagando-me por inteiro. No paladar, já não tenho tanto gosto e o que eu tenho não é mais como antes.

Tudo me parece ser o mesmo, meu filho. O mesmo sabor para tudo, chega até ser neutro, e a vida sem sabor não tem gosto. É assim mesmo, vai chegando o dia da sua caminhada para o eterno, e tudo vai se desarticulando, o entusiasmo apagando, e no fundo só à vontade de se completar no infinito. Ah meu filho, os meus olhos estão extremamente carregados, completos de experiências das quais tu vais passar como um herói.

Não te aprece de forma nenhuma com a vida, meu filho. Viva intensamente suas horas, nunca corra contra o tempo, e despeje todo seu ódio numa caixa, pois nunca se sabe quando precisaremos dele. Assim estarás lutando para conseguir um lugar no infinito, mas busque sempre sua autonomia, sei que somos dependente um dos outros, porém sei que existe também algo de particular em nossas vontades, algo egoísta... É o que nos torna diferentes.

Nunca faça o que eu fiz por muito tempo, meu filho, nunca passe um tempo muito grande triste, a tristeza tem seus bons momentos, contudo não é de grande prazer ficar triste e depressivo pelos cantos, se maldizendo.

Viva sempre feliz. Busque sempre o ideal. Tente ser alegre, compreensível, e verás que no fim de tudo terás um bom resumo, meu filho.

Esses são todos os meus votos e lamentos para ti,
Meu filho!