sexta-feira, 12 de junho de 2009

Letra no chão (coletânia o melhor da web na bienal do livro)

Num chão bruto e carregado
Nasceu uma letra.
Uma letra suja, sem estrutura.
Passavam automóveis, bicicletas,
Mas ninguém viu que ali
Brotara uma letra.

– Como uma letra brotou no chão?...
Chão este robusto, asfaltado! –

Como pode uma letra viajar
Mundos tão diferentes e parar aqui,
Num solo grotesco,
Onde não há nenhum nutriente
Para fortificá-la?...
– Como ela sobreviveu? –

Contudo, eu vi, está lá!
Uma letra brotada feito rosa,
No chão.

A letra ainda é muito jovem,
Nasceu há pouco tempo,
No entanto já conhece as marcas
De nosso mundo pós-moderno.

Ela parece ser fraca, frágil, debilitada,
Sua roupagem acinzentada,
Sua expressão... Delicada.
Parece-me esconder alguma coisa,
Algum mistério...
Sua força, talvez,
Pois ela nasceu em um lugar
Extremamente inóspito.

Seu recado perante o mundo
Aparenta ser o da persistência.
Suas entrelinhas não dizem com perfeição
Se é coeso o seu discurso.
O contexto em que nascera
Foi totalmente esdrúxulo...
Nasceu por entre pedras!

Sua forma feia, desajustada, incompleta,
Nos faz perceber que existe
Algo além do belo,
E que há muita beleza na feiúra.

A letra não tem nenhum nome,
Raça ou religião.
Nunca jamais, houve algo parecido,
Ou qualquer indício dela na terra.

Sua delicadeza é de tamanha medida.
Seus encantos inquietam quaisquer olhares.
Sua beleza – mesmo sendo feia –
É admirável.
Sua coragem é portanto inabalável.

A letra atravessou o papel,
Driblou as esquinas,
Correu de todos os sonhos
E se fez realidade.

Jamais deixem que essa proeza morra,
Pois ela carrega consigo
A esperança de dias melhores.

Em suas raízes está o legado
Da multicuturalidade dos povos.
Em seu tronco está o revestimento
Do conhecimento universal.
E em sua folhagem
Estão todos os códigos
– Signos –
Que ultrapassam
Todo infinito da vida.

Nenhum comentário: